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2011-11-06

A viagem no "Pátria"

Sala de jantar do navio Pátria
A minha primeira viagem a S. Tomé e Príncipe foi a bordo do navio Pátria.
Na altura, as minhas maiores viagens tinham sido até à praia da Figueira da Foz.
Na minha mente infantil, não conseguia muito bem imaginar como iria ser tão longa viagem.

Fomos para Lisboa de comboio – até à Régua na linha do Corgo, depois a mudança para a linha do Douro e finalmente a viagem na linha do Norte até Lisboa – uma autêntica odisseia para mim!
Eu já estava saturado da viagem e o meu pai para me aliciar dizia-me que em Lisboa iríamos andar de táxi…, isto sem qualquer explicação adicional para não quebrar a magia (eu desconhecia o que era um táxi!).
Quando entro no táxi, sofri uma grande decepção: o nosso Ford Cônsul era bem melhor!

Lembro-me, isso sim, do meu fascínio com a iluminação publicitária nos telhados dos edifícios da baixa lisboeta. À noite, antes de ir para a cama, ficava imenso tempo à janela, a ver as luzinhas coloridas a acender e a apagar. Se não estou em erro, havia um painel enorme da Oliva
Chegado o dia da partida, fiquei admirado com o tamanho do navio. Visto do cais, impressionava pela altura. Para mim era enorme!
Gostei imenso do nosso camarote. Tudo era um pouco mais pequeno e das vigias podia ver o mar.
À passagem da barra do Tejo e até à Madeira, passei um suplício. O enjoo foi constante e comecei a detestar a viagem.

Contudo, a partir daí tudo mudou. O enjoo desapareceu, a temperatura era agradável e eu adorava estar no convés a admirar a imensidão do mar. À piscina fui poucas vezes, pois a água era muito fria. Gostava era de brincar na sala das crianças. Tinha muitos jogos e um quadro para desenhar a giz.
Navio Pátria
A hora das refeições era sempre um momento solene. O meu pai comia na mesa do comandante, mas eu e a minha mãe comíamos numa mesa à parte, para eu não o incomodar com as minhas traquinices.
Sei que à noite havia festas, mas eu não fui a nenhuma.

Chegados a S. Tomé, vivi uns momentos de grande medo. Uma vez que não existia cais acostável para navios daquele calado, o navio ficava fundeado ao largo. A viagem para terra fazia-se a bordo dos chamados “gasolinas”, pequenas embarcações a gasolina, que transportavam talvez um dúzia de passageiros em cada viagem. O meu medo surgiu ao descer uma horrível e oscilante escada de corda e madeira, encostada ao casco do navio, desde o convés até ao “gasolina”. A altura era grande e tive um medo terrível de cair ao mar…
Mas tudo correu bem. Foram nove dias extraordinários, que nunca mais esquecerei.

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