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2011-11-20

Ponte de Trajano - Chaves, PT

Ponte de Trajano - Ano de 2009
Introdução

O Império Romano, foi o grande precursor daquilo a que agora chamamos globalização.

A necessidade de conseguir um transporte rápido e eficaz de pessoas e bens ao longo do império, levou os romanos a construir uma rede viária extremamente eficiente e duradoura. Desde a Britannia ao Egipto, da Lusitania à Cappadocia, as vias romanas foram um dos pilares do seu sucesso.

Mapa da rede viária e principais centros urbanos
no noroeste da península na época romana
A via XVII do Itinerário de Antonino, que ligava Bracara Augusta (Braga) a Asturica Augusta (Astorga), passando por Aquis Flaviis (Chaves), era parte integrante dessa grande malha viária e evidencia a importância atingida pela cidade nessa época.

A Ponte de Trajano, ex-líbris da cidade de Chaves, situada nessa via e magnífico exemplar da engenharia romana, mantém ainda hoje toda a sua imponência, passados quase 2 000 anos desde a sua construção.

Unindo actualmente as freguesias de Santa Maria Maior, na margem direita do Rio Tâmega, e da Madalena, na margem esquerda, foi alvo de várias intervenções e vicissitudes que foram adaptando e alterando as suas características originais, em função das necessidades e do uso.


Sinopse histórica

Ano 79
Data da erecção da coluna designada Padrão dos Povos, actualmente no Museu Flaviense e cuja cópia(*) está colocada a jusante da ponte, dedicada pelas dez civitates aos imperadores Vespasiano e Tito, ao legado propector de Augustus e à Legio VII Gemina Felix;

Réplica(*) do Padrão dos Povos
existente sobre a ponte
Eis o teor da inscrição nela existente:
IMP (eratori) CAES (ari) VE [sp (asiano) AVG (usto) PONT (ifici)] / MAX (imo) TRIB (unicia) POT (estate) [X IMP (eratori) XX P (atri) P (atriae) CO (n) S (uli) IX] / IMP (eratori) VESP (asiano) CAES (ari) AV [g (usti) F (ilio) PON (ifici) TRIB (unicia) / POT (estate)] VIII IMP (eratori) XIIII CO (n) S [s (uli) VII] / G (aio) CALPETANO RA [ntio Quirinali] / VAL (erio) FESTO LEG (ato) A [ug (usti) PR (o) PR (aetore)] / D (ecimo) CORNELIO MA [eciano Leg (ato) AUG (usti)] / L (ucio) ARRUNTIO MAX [imo Proc (uratori) AUG (usti)] / LEG (ioni) º VII GEM (inae) [Fel (ici)] / CIVITATES [X] AQUIFLAVIEN [ses Aobrigenses] / BIBALI COEL [erni Equaesi] / INTERAMIC [i Limici Aebisoci] / QUARQUE [r] NI TA [magani]".

Interpretação:
Estas dez civitates (povos), a saber, Aquiflaviense (de Chaves), Aobrigenses (de Oimbra), Bíbalos (do vale do Tâmega à encosta do Larouco), Coelernos (de Celanova), Equésios (do vale de Laza), Interâmicos(entre-rios / confluência do Rio Sil com o Rio Minho), Límicos (vale do Lima / Xinzo de Lima), Aebisocos, Quaquernos (Baños de Bande) e Tamaganos (vale de Monterrey / Verin) fazem a presente dedicatória ao César Imperador Vespasiano Augusto Pontífice Máximo, quando gozava da vigésima potestade tribunícia, Pai da Pátria, cônsul pela nona vez. Do mesmo modo ao César Imperador Vespasiano, filho de Augusto, Pontífice, gozando da oitava potestade tribunícia e da décima quarta imperatória, cônsul pela sexta vez (damnatio memoriae de Domiciano). Também a Caio Calpetano Râncio, Quirinal Valério Festo, Legado Propretor de Augusto, a Décio Cornélio Maeciano, Legado de Augusto, a Lúcio Arrúncio Máximo, Procurador de Augusto e, finalmente, a Legião Séptima Gémina Feliz.

Finais do séc. 01 / início do séc. 02
Época provável da construção da ponte sob o Império de Trajano;

Ano 104
Erecção da coluna comemorativa, assinalando a construção da ponte pelos aquiflavienses, à sua própria custa;

Teor da inscrição nela existente:
IMP(eratori) CAES(ari) NERVA / TRAIANO AVG(usto) GER(manico) / DACICO PONT(ifici) MAX(imo) / TRIB(unitia) POT(estate) CO(n)S(ule) V P(atri) P(atriae) / AQVIFLAVIENSES / PONTEM LAPIDEVM / DE SVO F(aciendum) C(uravit).

A sua tradução é:
Sendo imperador César Nerva Trajano Augusto Germânico, Dácico, pontífice máximo, com a potestade tribunícia, cônsul pela quinta vez, pai da pátria; os Aquiflavienses levantaram à sua custa esta ponte de pedra

Representação da Ponte de Trajano no livro de Duarte d'Armas
Séc. 16
Numa representação da ponte no "Livro das Fortalezas" de Duarte d'Armas, são visíveis 14 arcos, intercalados por talha-mares;

Ano 1880
Data de uma das restaurações da ponte, da construção dos pilares cilíndricos, da recolocação da cópia(*) da coluna comemorativa da sua construção e substituição das guardas de granito por grades de ferro.

Década de 1940
Construção de um paredão, espécie de cais, pela Câmara Municipal de Chaves, ao longo da margem direita do Tâmega, estreitando o leito do rio, abafando mais outros 4 arcos, para além dos 4 parcialmente ocultados e, pelo menos 2 outros, na margem esquerda, que já estavam soterrados desde longa data por alguns prédios;

Ano 1980
Durante a dragagem do rio conduzida pela autarquia, descobriu-se, na margem esquerda, a montante da ponte e muito próxima da mesma, um padrão cilíndrico idêntico ao Padrão dos Povos, mas epigraficamente com diferenças e sem permitir a leitura completa do texto devido à erosão provocada pela longa permanência na água. Esta será, em princípio a coluna original(*);

2008
Substituição do pavimento existente em cubos de granito, por lajeado de granito serrado, com elevação da cota inicial.
A partir desta data a ponte passa a ser de uso exclusivamente pedonal.


Características

Fotografia onde se vêem as guardas em pedra, obtida cerca de 1880, antes
da substituição por grades em ferro, ocorrida nesse ano.
Fotografia gentilmente cedida por Rui Queirós
Estima-se que inicialmente a ponte possuiria um tabuleiro com cerca de 140 a 150 m de comprimento e 18 ou 22 arcos, conforme os autores.

Possui actualmente 16 arcos visíveis, 9 dos quais se situam sobre o leito do Rio Tâmega, 3 sobre o cais existente na margem direita, parcialmente cortados na sua altura e os restantes 4, também na margem direita mas tapados e só com os topos visíveis, usados como arrumos dos prédios adjacentes.

Os arcos, de volta perfeita e aduelas almofadadas e com orifícios para encaixe do fórfex, assentam sobre pilares rectangulares.
Possuía inicialmente guardas laterais em granito, entretanto substituídas por guardas metálicas. Para escoamento das águas pluviais, possui lateralmente gárgulas semi-circulares.


Ponte de Trajano - Novembro 2011
Diferenças entre talha-mares
Os talha-mares existentes evidenciam as obras de restauro que ao longo dos séculos se foram realizando, pois se alguns se encontram perfeitamente encastrados na estrutura, outros há que estão sómente justapostos. Alguns deles foram entretanto substituídos por pilares semi-cilíndricos.


O fórfex
De realçar a diferente dimensão de dois arcos e pilares adjacentes do lado da margem esquerda do rio que, segundo alguns autores, denunciam a transformação de três em dois arcos, num processo de restauro necessário pelo eventual desabamento dessa parte da ponte, talvez ocorrido por altura das cheias de 1788 (observar na foto inicial o 1º e 2º pilar e o 2º e 3º arco, da direita para a esquerda).
Nessa zona o talha-mar existente possui dimensões muito superiores aos restantes.


Coordenadas (sensivelmente ao meio do tabuleiro)

41º 44' 18'' N, 7º 28' 1'' O


(*) Existem várias opiniões acerca da originalidade das colunas:
- Enquanto alguns advogam que as colunas existentes (duas sobre a Ponte de Trajano e uma outra no Museu da Região Flaviense) são as três originais, outros há que opinam que só a do museu é original, sendo as outras duas réplicas das originais... 

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